Google, Microsoft e Apple unidas por uma web menos livre

Privacidade BloqueadaA "web" (www) e a internet tem como uma de suas características fundamentais a utilização de padrões abertos, públicos e transparentes.

As três principais tecnologias que constroem as páginas Web são o HTML, o CSS e o JavaScript (linguagem de programação). Durante muitos anos a Microsoft se utilizou de sua posição privilegiada no mercado para tentar criar uma variante do JavaScript que fazia com que os recursos funcionassem apenas em seu navegador e não nos concorrentes. Com isso, durante muito tempo os desenvolvedores sofreram para conseguir criar páginas que funcionassem em mais de um navegador e muitas vezes era necessário praticamente criar duas páginas para conseguir atingir tal objetivo.

Com o passar do tempo, os demais navegadores começaram a ganhar espaço no mercado por sua clara superioridade - e parte desta superioridade era advinda da adesão desses navegadores aos padrões abertos definidos; e os desenvolvedores passaram, pouco a pouco, a desenvolver dentro dos padrões se importando cada vez menos com o InternetExplorer, que passou a enfrentar problemas de compatibilidade e apresentar falta de recursos que os demais apresentavam.

Hoje este problema de falta de adesão a padrões é muito menor, mas o Google, a Microsoft e a Apple anunciaram uma iniciativa conjunta que deve impactar muito na característica Aberta da Web.

Como funciona hoje?

Hoje quando um usuário acessa uma página, todo código JavaScript da página é entregue em "texto plano" para o navegador, que vai interpretar este código e realizar as ações devidas. Com isso, é possível que os usuários, desenvolvedores e "a comunidade" analisem os códigos que cada site executa no computador do usuário.

Porque isso é importante?

Hoje uma das maiores, senão a maior, fontes de dinheiro na internet é a coleta e venda de dados pessoais de todo mundo. Existem dezenas, senão centenas, de empresas especializadas em coletar todo tipo de informação, são as chamadas Data Brokers.[1] Eles sabem quais páginas você visitou, quando você visitou, o que você fez em cada página, e tudo isso sem o seu conscentimento.

Mas pelas características da Web e, em especial, pelo fato dos códigos JavaScript poderem ser analisados e auditados por nós, usuários, nós podemos nos proteger dessas práticas invasivas utilizando algumas extensões nos navegadores que bloqueiam tais códigos.

Ou seja, hoje nós temos condições de saber quais são os códigos executados em nossas máquinas - o que deveria ser sempre um direito de autonomia nossa.

O que está sendo proposto?

As três empresas estão propondo, sob a justificativa de "melhora na velocidade dos serviços prestados", que este código que hoje é entregue em formato texto - aberto, transparente e auditável; seja entregue num novo formato (binário/compilador), que não poderá mais ser auditado pelos usuários e será apenas executado pelo navegador. Com isso, nós, usuários, não saberemos mais o que está sendo executado em nossos navegadores, não saberemos quais informações nossas estão sendo coletadas.

Esta é uma verdadeira afronta à autonomia e à privacidade de todos usuários da web.

A melhora de desempenho pode ser atingida de diversas maneiras, dentre elas reduzindo o número de scripts que coletam nossos dados - façam o teste, depois de passar a utilizar plugins/extensões/add-ons que bloqueiam estes "trackers" as páginas irão abrir numa velocidade muito maior em seu navegador.

Para saber mais sobre a iniciativa em questão: http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2015/06/google-microsoft-e-apple-vao-deixar-navegadores-20-vezes-mais-rapidos.html

[1] https://antivigilancia.org/boletim_antivigilancia/consultas/data-brokers-profiling-guia

3 comments

22
jun

E não para por ai, hoje li a notícia abaixo, dizendo que o google agora instala no Chrome (sem perguntar nada aos usuários) uma atualização que permite a eles ficar ouvindo tudo que se passa no ambiente pelo microfone de seu computador.

http://wearechange.org/got-chrome-google-just-silently-downloaded-this-o...

25
jun

1 - Todo mundo que é desenvolvedor sabe que o javascript pode ser "minificado" ou comprimido. Isso tira a semântica do código e torna a leitura um árduo trabalho de engenharia reversa.
2 - Todos os binários conhecidos tem decompiladores. É óbvio que pessoas interessadas em saber o código do cliente irão DECOMPILAR o binário.
3 - Um dos maiores problemas não é tanto a velocidade, mas a falta de versatilidade no lado cliente. Todo mundo é obrigado a programar em javascript (ou compilar para o mesmo). Com o novo padrão, ficará muito mais fácil criar linguagens de programação para executar no lado cliente.
4 - Todo mundo tá cansado de saber que o google sabe toda nossa vida. Mas azar. Esse é o preço. O máximo que fazem é colocar umas propagandinhas de algo que provavelmente queremos (ou passar para a NSA, caso sejamos terroristas haha). Mas prefiro muito mais conviver com isso e ter um serviço de e-mail punk do que implementar um servidor de e-mail do zero.

28
jul

Prezada pessoa que não se identificou, tenho algumas ponderações a fazer em seu
comentário:

Em sua frase: "Todo mundo tá cansado de saber que o google sabe toda
nossa vida. Mas azar. Esse é o preço", nem todo mundo e não é "nossa"
vida é SUA vida pelo menos. nem todos são como você.

Em sua frase: "Mas prefiro muito mais conviver com isso e ter um serviço
de e-mail punk do que implementar um servidor de e-mail do zero."..
você não precisa implementar um servidor de email do zero, já existem
vários software livre ótimos que já estão implementados, basta apenas
você instalá-lo em um computador com ip fixo, mas claro, mesmo sendo
fácil, isso não é pra qualquer um, e isso é o que diferencia uma pessoa
rendida e uma pessoa que faz: o conhecimento em fazer as coisas e não
simplesmente usar.

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